sexta-feira, 19 de abril de 2013

GERAÇÃO RITALINA


         Belo texto-depoimento publicado por Juliana Szabluk no Facebook, que acho importante reproduzir aqui
Seguir · 20 de agosto de 2012 

GERAÇÃO RITALINA -> Ligo a TV e, pra minha surpresa, vejo uma matéria sobre a venda livre de ritalina em Porto Alegre. Usei ritalina por muitos anos. Usei ritalina não porque sou dependente química, mas porque era dependente do modo de vida que exigia ritalina. Larguei a ritalina quando ela começou a ser o remédio mais difícil de encontrar. RITALINA SEMPRE EM FALTA. "Vendo mais ritalina do que aspirina", diz o farmacêutico. Pois é, pessoal. Uma triste realidade que parece loucura para meus novos amigos, mas uma realidade massiva nas novas gerações, que tanto pesquiso e amo.

Ritalina é o remédio pra déficit de atenção e hiperatividade. Ela trabalha no córtex cerebral, aumenta o fluxo de dopamina e noradrenalina, neurotransmissores que funcionam mal em pessoas com déficit de atenção. Mas é a geração que ama correr, que ama consumir sexo, consumir festa, consumir chocolate, que ama consumir tudo muito rápido, tudo ao mesmo tempo, tudo motivado pela dopamina. Ode à dopamina! Nos anos 90, éramos todos bipolares de acordo com a medicina e a mídia. Nos anos 2000, tínhamos déficit de atenção: toca ritalina na criança! Ela tem DDA.

DÉFICIT DE ATENÇÃO? Eu fui professora sete anos da minha vida e dava aulas pra essas crianças e adolescentes. Eram centenas de jovenzinhos correndo e gritando ao redor. Conversei com cada um deles e ninguém está desenvolvendo tais doenças. O que acontece é consequência natural do modo de vida atual. Nossos parâmetros não acompanham a mudança estrutural do próprio cérebro. Queremos ter o cérebro do artesão na era da separação máxima, a separação da experiência de vida do próprio indivíduo. TOCA RITALINA NA CRIANÇA. Ela emagrece, foca, fica quietinha e produz que é uma beleza.

NÃO EXISTE DÉFICIT DE NADA, EXISTE UM SISTEMA IMPOSSÍVEL DE VIDA. Acordar 6am e ser paga pra pensar, pensar o dia inteiro e concluir o dia pensando na faculdade até 23h. Pensar com prazo, pensar pra ontem. Pensa isso, lê isso, sabe aquilo, decora aquilo outro, o sistema do conhecimento exige potencializadores cerebrais, OBVIAMENTE. Não é à toa que descobrimos as falhas no córtex das novas gerações. Mal posso esperar a vinda de Susan Greenfield ao Brasil este ano. O que está acontecendo com o cérebro dos jovens?

É UM NOVO CÉREBRO, NÃO UM CÉREBRO DOENTE. Não existe mais emoção alguma nas coisas que fazemos, é isso que eu concluo. Símbolos se tornaram ícones, situações se tornaram fatos. Consequentemente, a memória de curta duração se expande e a memória de longa duração se perde. Trabalha, memória de curta duração!!! Decora fatos, ícones, nomes, imagens. É isso que te forma. É isso que forma teus dias. E é o que mais ouvimos:

O BOM DA TECNOLOGIA É QUE PODEMOS FAZER TUDO AO MESMO TEMPO. É a frase favorita da geração Milênio, a geração da perda de significado, como tem sido chamada por grupos de psicólogos. Sem significado, sem memória de longa duração. Trabalhando na curta, precisamos da ritalina pra focarmos, pra não esquecermos o que fizemos há 5min.

Eu tive provas exigindo o placar do jogo do Grêmio de ontem. No mesmo dia, me exigiam redações emotivas sobre qualquer coisa que também não fazia parte de mim. Não existe coerência alguma e o conhecimento é sempre descontextualizado. A culpa não é da academia. A culpa é de todos nós, que aceitamos o modo de vida do conhecimento separado. Ah, Fedro. Teu diálogo nos avisava que o primeiro livro faria isso conosco. Mas, mesmo que o livro seja a primeira tecnologia da inteligência a separar o conhecimento, a culpa não é do livro. A culpa é nossa por viver os fatos cotidianos como histórias em livros. Tragédia x catarse em seu ápice. Taí a consequência que pedimos há séculos. Finalmente, estamos separados de tudo. Finalmente, não temos ligação com os próprios fatos que vivemos. Finalmente, preciso de uma droga pra me ligar à minha própria vida.

A culpa é nossa por aceitarmos cada experiência de vida como instagram. Por viver cada momento como um show no palco, como uma festa no álbum do face, como um relacionamento que se apaga no status. Preciso lembrar/preciso esquecer. São as chaves da era da rede. Adiciona/exclui. Brincamos com o cérebro como cobaias num experimento.

GERAÇÃO RITALINA, a geração sem foco, a geração sem significado, a geração sem memória de longa duração, a geração ícone, geração fato, geração manchete, geração avatar facilmente deletável. Não adianta se opor à Ritalina. Quanto mais lutamos contra a indústria farmacêutica, mais ela cresce, porque ela é consequência de um modo de vida que pedimos diariamente. Tua contradição alimenta a indústria.

Ode ao texto que escrevi no perfil antigo e que apavorou todo mundo: eu não uso drogas, minha vida é uma droga. Nada é mais verdadeiro do que isso. Nossa vida é a droga, a ritalina é uma consequência da nossa aceitação e potencialização do sistema. Se não querem ritalina, mudem todo sistema, que já está falido mesmo. Quanto mais falido o sistema das imagens, mais as novas gerações potencializam as imagens.

OS PAIS PERMITEM E SE APAVORAM COM O USO DE DROGAS. Pai, menos. Tu aceitou isso, agora abraça o kit que tu deu pro teu filho. Teu filho é parte do sistema com o teu aval. Teu filho é a geração da ode à dopamina.

E eu...? Eu cortei até o chá de São João. Nenhuma ina no meu corpo será permitida. Dia após dia, corto mais e mais. Meu objetivo é a saída total disso daqui. Fim de ritalina, nicotina, cafeína, taurina, efedrina, dopamina. Fim de imagem, separação, contradição. Quanto menos ina no meu corpo, melhor. É o que eu posso fazer pelo mundo, por mim, por ti e por meus filhos. Não adianta lutar contra a indústria quando tudo está interligado. Não existe separação. Tua luta separada contra a indústria alimenta a indústria da separação.

Beijo pra quem fica e ótimo dia pra nós!
Dia de filosofia com o britânico Simon Blackburn.
Pra que serve a filosofia? – pergunta Blackburn... Pra eu saber que cada ato meu no mundo é uma guerra amorosa contra este sistema

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Carl Rogers, um psicólogo a frente de seu tempo.

Publicado no Jornal do Brasil -Rio de Janeiro 1977


O crescimento e a mudança construtiva da personalidade surgem somente quando o cliente percebe e experimenta um certo clima psicológico na relação terapêutica. As condições que constituem esse clima diz Rogers, não consistem de conhecimento, treinamento intelectual, orientação em alguma escola de pensamento, ou técnicas. Elas são sentimentos e atitudes que precisam ser experimentados pelo assistente psicológico e percebidos pelo cliente,para se tornarem efetivos. Essas, condições, eu as limitei como sendo essencialmente uma compreensão empática dos sentimentos do cliente e dos significados da pessoa; uma aceitação calorosa e incondicional da pessoa do cliente; e uma autenticidade, sinceridade e congruência da parte do terapeuta.
Rogers foi o primeiro a gravar uma consulta com um cliente em 1938, logicamente com a concordância do cliente usando um pseudônimo para uso cientifico. Logo depois assumiu mais uma atitude revolucionaria da terapia, filmando consultas com clientes. Foi o primeiro psicólogo a desmistificar a profissão de psicoterapeuta, em geral e também seu próprio comportamento como terapeuta. Ao virar a câmera para si próprio, mostrando seus êxitos e seus fracassos, numa tentativa de corrigi-los, conseguiu demonstrar que “a melhor maneira de se aprender psicoterapia é gravar e filmar as próprias consultas com os clientes”
Esta visão de vanguarda de Rogers desmistifica o papel do terapeuta como sendo um individuo “neutro em absoluto”, o que não é possível, e sim envolvido com as necessidades do cliente.
É possível encontrar este trabalho de pesquisa num livro editado por Rogers: Psicoterapia e Aconselhamento Psicológico, da editora Martins Fontes.
Outro resultado plenamente alcançado através das gravações de filmes foi o desenvolvimento de sua teoria do processo terapêutico, hoje conhecida como “Terapia Centrada na Pessoa”.
Embora tenha resistido a contínuos esforços que pretendiam torná-lo uma espécie de guru, do que muitas pessoas chamam, erradamente, de Terapia Rogeriana, não conseguiu evitar sua projeção como líder inconteste de um movimento que abrange vários países, com diversas ramificações em vários outros campos, além da psicoterapia. Ele é em grande medida, responsável pelo o que veio a ser chamado “Movimento do Potencial Humano” e, certamente, é uma força importante no desenvolvimento de mais de 300 centros nos USA, que se dedicam a estimular pessoas a realizar suas potencialidades.
Em um numero especial da revista Education, inteiramente dedicado a Carl Rogers, um dos artigos reconhece que provavelmente nos últimos 25 anos não houve um único programa de treinamento administrativo ou desenvolvimento organizacional, nos Estados Unidos, que não tenham sido construídos sob suas formulações teóricas.
No curso de sua vida profissional, Rogers exerceu a presidência da Associação Americana de Psicologia, da Academia Americana de Psicoterapeutas e da Associação Americana de Psicologia Aplicada.
Com uma vasta bibliografia é o único psicólogo que recebeu os prêmios Distinguished Cientific Contribution Award, por suas pesquisas cientificas, e Distinguished Professional Contribution Award, por seu trabalho em psicoterapia e educação.

A psicologia pensada por Carl Rogers é considerada como a terceira força no desenvolvimento das técnicas psicoterápicas.
A primeira força é a Psicanálise criada por Freud e seus seguidores, a segunda força é o Behaviorismo de Skinner e seus seguidores, e a terceira força a Psicologia Humanística de Rogers, Maslow e Sullivan, entre outros seguidores.
Este blog tem o intuito de divulgar periodicamente aos interessados, matérias relativas à atualidade da psicologia e da filosofia e todo tipo de informação pertinente ao desenvolvimento e a aplicação da psicoterapia e o tratamento das mais diferentes questões psicológicas e existenciais.

Participem.

Claudio Bergamo-Psicólogo